Os inquéritos populacionais realizados na Itália e na Espanha podem ser representativos do atual desafio para o sistema de saúde no enfrentamento da epidemia de hepatite C. Os resultados desses estudos devem servir de alerta para todos os países do mundo.
Um desses estudos, feito na Itália (1) em 2015 realizou o teste anti-HCV em indivíduos com mais de 20 anos de idade de 5 grandes áreas urbanas em pessoas atendidas por clínicos gerais.
O anti-HCV foi realizado na saliva de 4.907 indivíduos e todos os positivos confirmados por biologia molecular e a transaminase ALT foi realizada nos indivíduos positivos.
Entre os 4.907 testados foram encontrados 112 (2,3%) anti-HCV positivos. Ao separar por faixa etária somente 0,2% dos positivos se encontravam com menos de 30 anos de idade e na faixa de mais de 70 anos a prevalência era de 6%, esta faixa de idade correspondeu a 42,8% de todos os indivíduos positivos no anti-HCV.
Pela biologia molecular o RNA-HCV foi detectado em 1,7% de toda a população estudada.
Concluem os autores do estudo italiano que o número estimado de 3 milhões de indivíduos infectados com hepatite C nos anos 90 era exagerado e na realidade na atualidade 1,7% de infectados representam 1,1 milhões de infectados com hepatite C e, considerando que a maioria dos infectados se encontram com idade superior aos 70 anos o impacto da infecção estará diminuindo com o esgotamento natural do reservatório do vírus em idosos.
Um segundo estudo realizado na Espanha (2) relata que o último inquérito foi realizado em Madrid em 2009 e que não existem dados atualizados sobre a prevalência da hepatite C no país e, mais importante, sobre quantos têm realmente a infecção ativa.
Foi então realizado um estudo epidemiológico transversal de base populacional entre os anos de 2015 e 2016 em Santander, Madrid e Valencia. Os participantes foram selecionados aleatoriamente, estratificando por idade, residente em área urbana ou rural e condição socioeconômica.
No total foram incluídos 6.839 indivíduos em três grupos de idade, um grupo com pessoas com idade entre 20 e 35 anos com 1.077 integrantes, um segundo grupo de 2.908 indivíduos com idade entre 36 e 50 anos e um terceiro grupo com 2.854 indivíduos com idades entre 51 e 70 anos de idade.
No total 1,11% (76 indivíduos) resultaram positivos ao anti-HCV e entre eles 31 apresentavam RNA-HCV (carga viral) positiva, indicando uma prevalência real de infectados de 0,45% da população testada.
Na faixa de idade entre 20 e 35 anos, o anti-HCV positivo foi encontrado em 0,37% dos testados.
Na faixa de idade entre 36 e 50 anos, o anti-HCV positivo foi encontrado em 1,27% dos testados.
Na faixa de idade entre 51 e 70 anos, o anti-HCV positivo foi encontrado em 1,22% dos testados.
Finalmente, 17,8% dos 6.839 indivíduos apresentavam elevação das transaminases e / ou valores maiores na elastografia do fígado, o que foi maiormente encontrado nos indivíduos do grupo de idade entre 51 e 70 anos.
Concluem os autores do estudo espanhol que a prevalência do anti-HCV foi de 1,1%, notavelmente menor do encontrado em estudos anteriores e curiosamente a prevalência da infecção ativa foi inferior a 50% dos pacientes com anti-HCV positivo, alertando que esses resultados podem ser fundamentais para a estruturação de ações a médio e longo prazo para reduzir a carga da doença.
MEUS COMENTÁRIOS
A importância destes dois estudos mostra que os infectados com hepatite C estão envelhecendo e pelo sangue seguro, medidas de biossegurança e material de injeção descartável poucos jovens estão se infectando, com baixa prevalência de hepatite C entre eles.
Esses dados de uma população idosa infectada com hepatite C é facilmente comprovada nos hospitais e ambulatórios, onde raramente encontramos jovens em tratamento, já que são poucos os novos infectados.
Curiosa, mas verdadeira, é a conclusão do estudo italiano que considera que a maioria dos infectados se encontram com idade superior aos 70 anos e, portanto, o impacto da infecção estará diminuindo com o esgotamento natural do reservatório do vírus em idosos, isto é, para bom entendedor, é falar que muitos deles estarão morrendo daqui a 10 ou 20 anos.
Este artigo foi redigido com comentários e interpretação pessoal de seu autor, tomando como base a seguinte fonte:
(1 – Estudo Italiano) – Declining prevalence and increasing awareness of hepatitis C virus infection in Italy: A population-based survey – Angelo Andriulli, Tommaso Stroffolini, Maria Rosa Valvano, Ignazio Grattagliano, Antonio Massimo Ippolito, Adriano Grossi, Giuseppina Brancaccio, Christian Coco, Maurizio Russello, Antonina Smedile, Elisa Petrini, Silvia Martini, Giovanni Battista Gaeta, Mario Rizzetto – EASL 2017 – Abstract THU-182
(2 – Estudo Espanhol) – Prevalence of hepatitis C in the spanish population. the prevhep study (ethon cohort) Antonio Cuadrado Lavin, Christie Perello, Susana Llerena, Maca Gomez, María D. Escudero, Luis Rodriguez, Angel Estebanez, Bea Gamez, Laura Puchades, Joaquin Cabezas, Miguel A. Serra, Jose L. Calleja, Javier Crespo – EASL 2017 – Abstract THU-190
Carlos Varaldo
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