Regressando de Paris (por culpa da greve da Air France com cancelamento de meu voo no domingo) onde aconteceu o congresso europeu de fígado – EASL 2018 – confesso que na minha avaliação pessoal foi um dos congressos mais desanimados na questão de novidades que já frequentei nesses quase 20 anos de ativismo. Não que não tenha havido novidades, muito pelo contrário, há muita coisa nova a chegar no futuro. Vamos então tentar explicar o porquê da minha avaliação.
Com a cura quase total da hepatite C que conseguem os novos medicamentos pan-genótipos seguramente mais nada de novo vai aparecer, a não ser relatos sobre a experiência adquirida com o tratamento de milhares de infectados, novos relatos de resposta terapêutica em populações especiais, estudos populacionais sobre o que acontece com o fígado dos pacientes curados e com aqueles, poucos, que ainda podem fracassar ao tratamento.
Teve sim, muitas apresentações sobre experiências de países que se encontram realizando campanhas de eliminação da hepatite C, seja para cumprir a meta da Organização Mundial da Saúde até 2030 ou até antes disso, o que são exemplos excelentes para seguir por outros países. O Ministério da Saúde do Brasil esteve presente (Cassia e Elisa) e certamente, tendo em conta que o Brasil é um país continental e as experiências apresentadas são de países pequenos, os casos apresentados servirão para que o desafio do Brasil de eliminar a hepatite C possa ser alcançado.
Os temas mais discutidos do congresso (e isso certamente vai acontecer igualmente nos próximos congressos), foram, medicamentos para as hepatites B e D, câncer de fígado, gordura no fígado (NASH), medicamentos para tratar a fibrose, testes que diagnosticam e confirmam a infecção de forma rápida e sem necessidade de enviar uma amostra ao laboratório, métodos de imagem para avaliar fibrose, NASH, e, também, como aumentar a sobrevida e qualidade de vida dos infectados curados da hepatite C.
Isso porque solucionado o tratamento da hepatite C pesquisadores e indústria farmacêutica passam a centrar esforços nessas áreas, ainda, beneficiadas com o lucro da venda de medicamentos para a hepatite C. Curiosamente esta semana um polêmico informe do banco de investimento Goldman Sachs questiona se é bom para a indústria farmacêutica descobrir medicamentos que curam a doença, já que economicamente é muito mais rentável que uma doença seja crônica e que os pacientes tenham que usar medicamentos por toda a vida, Porém os infectados com hepatite C discordam do banco e agradecem a indústria farmacêutica por terem descoberto medicamentos que em poucas semanas curam a doença.
Mas voltando ao primeiro parágrafo, onde falei da minha desilusão, isso foi consequência que todas as pesquisas ainda se encontram nas primeiras fases dos estudos, muito pouco já está numa fase 3 das pesquisas, portanto, ainda será necessário aguardar dois ou três anos para que tais pesquisas cheguem para beneficiar os pacientes.
Na sexta-feira, a Organização Mundial da Saúde (OMS) instou os governos a atacar o problema com mais urgência e mais dinheiro. Apenas cerca de três milhões de pessoas, de um número estimado de 71 milhões de portadores do vírus da hepatite C receberam o tratamento.
É necessário encontrar o mais rapidamente possível os infectados com hepatite C e oferecer o tratamento, pois tratar e curar os infectados economiza os custos que aconteceram se alguém progride para doença hepática ou outras consequências que requerem hospitalização, em alguns casos transplantes de fígado muito caros, (ou) atendimento terciário.
Não há vacina para a hepatite C, e a cura é a melhor maneira de prevenir a disseminação do vírus.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) colocou que alguns países, como Egito, Paquistão, China e Brasil, realmente começaram a aumentar o acesso aos medicamentos. Uma revisão das diretrizes sobre o tratamento da hepatite C a ser publicada ainda em 2018 proporá que todas as pessoas com mais de 12 anos tenham acesso ao tratamento com os novos medicamentos e, isso, servirá para comprometer os países a enfrentar a epidemia.
Foi bonito ver nas apresentações da Organização Mundial da Saúde que colocam o Brasil como um exemplo a ser seguido no enfrentamento a epidemia das hepatites. Na Europa apenas seis países, Holanda, Islândia, Geórgia, França, Espanha e Suíça estão no caminho certo para atingir a meta de diagnosticar e tratar 90% dos infectados em 2030.
ENXUGANDO GELO?
Uma pesquisa apresentada mostrou que o número de infecções por Hepatite C nos Estados Unidos quase triplicou em cinco anos, em parte devido a um aumento no compartilhamento de agulhas, alimentado pela epidemia de opiáceos.
Ao comparar os números apresentados, quando se mostra o número de curados da hepatite C e o número de novos infectados levei mais uma desilusão, pois a cada um curado praticamente aparece mais um novo infectado, culpa disso são as drogas injetáveis, mas isso é quando os números são globais.
No Brasil, onde já todos os diagnosticados com fibrose F3 e cirrose já receberam tratamento, onde estão sendo tratados os com fibrose F2, e ainda em 2018 o tratamento será ofertado a todos, com qualquer grau de fibrose, temos a sorte que praticamente não existe o uso de drogas injetáveis, estamos curando um número muito maior que o número de novos infectados, isto é, estaremos ganhando a guerra e conseguiremos antes de 2030 cumprir a meta da Organização Mundial da Saúde.
Mas devemos ficar ativos e atentos as mudanças políticas no Brasil para que o programa de enfrentamento das hepatites não sofra retrocessos.
Carlos Varaldo
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