Acaba de ser publicado no Hepatology um estudo do CDC – Centro de Controle de Doenças e Prevenção, órgão do governo dos Estados Unidos, um estudo com recomendações sobre a forma correta de informar sobre a transmissão sexual da hepatite C.
A opinião médica varia de forma considerável em relação à transmissão sexual do vírus da hepatite C. O Centers for Disease Control and Prevention – CDC analisou 80 estudos publicados na literatura cientifica sobre evidencias a favor ou contra a transmissão sexual.
O resultado mostra que na relação heterossexual regular de um casal estável não existe maior risco da transmissão sexual da hepatite C. O risco de infecção pode aumentar em pessoas com múltiplos parceiros, porém esta associação pode estar afetada pelo fato de nesse grupo existir uma maior probabilidade de utilização de drogas injetáveis, o que dificulta atribuir a maior incidência somente ao número de parceiros sexuais.
Aparentemente os estudos mostram que existe maior possibilidade de transmissão sexual para as mulheres co-infectadas com HIV/AIDS ou outras infecções de transmissão sexual e, especialmente a incidência da hepatite C e mais alta entre os homens homossexuais infectados com HIV/AIDS que mantém relações sexuais entre eles que entre os homossexuais não infectados com HIV/AIDS.
Os homens homossexuais infectados com HIV/AIDS aumentam o risco de transmissão devido a praticas sexuais que levam ao traumatismo da mucosa, o que pode acontecer com múltiplos parceiros, utilização de brinquedos sexuais e a pratica do fisting (fisting é uma prática sexual que envolve a inserção da mão ou antebraço no ânus) e a presença de doenças ulcerosas genitais.
Conclui a publicação com a recomendação de que a divulgação de informações sobre a transmissão sexual da hepatite C deveria ser cuidadosa para não distrair ou confundir a população, devendo fornecer orientações corretas em função das evidencias cientificas e, não simplesmente dar orientações alarmistas. Alertam ainda que os gestores da saúde devam prestar especial atenção a transmissão sexual da hepatite C entre os indivíduos infectados com HIV/AIDS, mas sem generalizar a recomendação para a população em geral.
MEU COMENTÁRIO:
As recomendações do governo dos Estados Unidos realizadas pelo seu organismo, o CDC – Centers for Disease Control and Prevention, são de fundamental importância, pois em vários países, inclusive no Brasil, os próprios responsáveis pelo programas de combate a hepatites muitas vezes contribuem a divulgar informações equivocadas em relação à transmissão sexual da hepatite C.
Casualmente neste momento o Programa Nacional de DST/AIDS/Hepatites do Ministério da Saúde está preparando uma nova pagina na internet. Para evitar erros solicitou as ONGs para fazer uma leitura objetivando encontrar erros e realizar sugestões. Alertamos o Programa Nacional no último dia 18 que as informações sobre prevenção da hepatite C estão totalmente erradas.
Na prevenção da transmissão da hepatite C colocam que “evitar a doença é muito fácil. Basta usar camisinha em todas as relações sexuais” e, ainda, informam que o preservativo está disponível na rede pública de saúde. Colocam ainda que entre as principais causas de transmissão esta a pratica de sexo sem camisinha com uma pessoa infectada.
Em desacordo com o conhecimento cientifico mundial e com o CDC, a interpretação da transmissão sexual da hepatite C pelo Programa Nacional de DST/AIDS/Hepatites mostra claramente que todas as informações estão sendo elboradas como se toda a população brasileira estivesse infectada com HIV/AIDS, generalizando uma forma de transmissão que acontece nesse grupo de pessoas e, esquecendo informar corretamente o restante da população, criando com isso estigma em relação à hepatite C e discriminação na população mono infectada com a doença.
É necessário abrir a discussão antes de divulgar informações incorretas para evitar erros que podem ser irreparáveis. O Programa Nacional de DST/AIDS/Hepatites atuou corretamente ao solicitar o auxilio das ONGs, as quais esperam que as sugestões e correções sejam apreciadas e aceitas, evitando não somente colocar informações incorretas na página da internet como em todo e qualquer material de divulgação a ser elaborado.
Este artigo foi redigido com comentários e interpretação pessoal de seu autor, tomando como base a seguinte fonte:
Is sexual contact a major mode of hepatitis C virus transmission? – Tohme RA, Holmberg SD – Division of Viral Hepatitis, National Center for HIV/AIDS, Viral Hepatitis, STD, and TB Prevention, Atlanta, GA. – Centers for Disease Control and Prevention – CDC – Hepatology. 2010 Jun 16.
Carlos Varaldo
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