José Luiz – Brasil

1918

EU VENCI A HEPATITE C – Brasil
(História de uma vitória pessoal)

Sou médico ortopedista, formado há 33 anos.
Sou sócio de duas clínicas na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Tenho um bom trajeto profissional.
Há 3 anos, a fim de dar movimento à minha vida profissional, me matriculei na Unigranrio, para fazer uma pós-graduação em osteopatia, uma técnica interessante que trata das disfunções articulares.
Voltei a estudar muito.
As aulas práticas eram realizadas com todos em roupa de banho, para que as manobras pudessem ser mais bem realizadas entre os alunos.
Quase na metade do curso começaram a surgir feridas nos meus braços e em minhas mãos, que acabaram se proliferando e dando um aspecto bastante agressivo.
Sentia muita dor.
Vinte e quatro horas de dor.
Comecei a ficar extremamente constrangido em participar das aulas práticas. Era desagradável manipular os colegas, com todas aquelas feridas à mostra.
Passei a usar artifícios para tentar escondê-las, com camisas de manga comprida e casacos. Também tentava ao máximo fugir das aulas práticas.
Bebia muito nessa época.
Passei a fazer deduções confusas para entender a razão de tudo que estava acontecendo comigo.
As feridas apareciam principalmente nas mãos e achei que poderia ter um componente psicológico.
Um tipo de auto-agressão, um autoflagelo.
Mesmo recebendo muita solidariedade dos meus companheiros e professores, acabei abandonando o curso.
Sempre fui muito alérgico, com o foco principal na pele.
Sou atópico. A atopia é uma entidade patológica com intenso componente emocional. Cerca de 90% dos sintomas são somatizações. O atópico somatiza tudo o que interfere na sua vida, e minha pele sempre foi um karma.
Uma amiga dermatologista fez uma biopsia em uma das feridas, e o resultado foi “penfigoide bolhoso”. Uma derivação do “pênfigo”, conhecido como “fogo selvagem”, que costuma cobrir o corpo inteiro de feridas. Passei a usar cortisona, cloroquina, e fluoxetina.
Continuei a beber cerveja.
Não havia nenhuma melhora. Além das feridas, passei a ter manchas escuras pelo corpo todo.
Por insistência de um amigo, procurei outro dermatologista, que depois de um minucioso exame, me disse constrangido: “Isto é porfíria, e pode ter vindo de uma hepatite C.”
Levei um susto.
Refiz a leitura do exame anatomopatológico da peça com outro patologista.
O diagnóstico de porfíria foi confirmado.
Fiz exames laboratoriais mais abrangentes e biopsia do fígado.
Diagnóstico: Hepatite C crônica reativada,
Provavelmente causada pelo álcool.
Dos males o menor; não tinha cirrose.
O genótipo do meu vírus era 3, considerado o mais brando e o que melhor responde ao tratamento.
Imaginei ter essa hepatite há uns trinta anos, talvez por alguma contaminação nos plantões das emergências no atendimento a acidentados.
Parei de beber completamente.
Iniciei o tratamento com interferon semanal e ribavirina.
Fui avisado da agressividade do tratamento,
Os efeitos da medicação são semelhantes aos causados pela quimioterapia e pelo coquetel de medicamentos usados na AIDS.
Já tinha emagrecido muito e a minha fraqueza muscular se acentuou. Minha palidez era visível, todos comentavam, inclusive os pacientes.
Um deles, uma senhora, me perguntou durante a consulta se eu era soropositivo.
Naquele momento fugi do consultório e me refugiei em casa.
Estava arrasado,
As dores não me deixavam dormir mais de duas horas por noite.
Foi um período pessoal e profissional muito difícil.
As feridas desapareceram completamente, de repente, como um milagre,
Mas só suportei o tratamento até a nona dose.
Tive uma alergia de pele na região genital, que se complicou pela minha baixa imunidade.
A alergia acabou se transformando em infecção, me levando a duas pneumonias e uma tuberculose.
Me internei com um quadro clínico de septicemia.
Fiquei um mês no hospital.
Meus filhos e minhas irmãs não me largaram um minuto sequer.
Sofreram muito.
Eles talvez nem imaginem, mas fui salvo por eles.
Não tenho dúvidas disso.
Cada vez que pensava neles chorava convulsivamente
Era incontrolável.
A gratidão que sinto é indescritível.
A família é um porto sempre a espera de um barco.
Eram tantas bactérias no meu organismo, que todo dia crescia mais uma leva.
Os médicos não conseguiam chegar a um consenso no diagnóstico, e imagino que tenha sido salvo por afogamento de bactérias que não suportaram a quantidade de antibióticos injetada em mim.
Emagreci mais dez quilos.
Durante a internação fui invadido por agulhas, borrachas e cateteres.
Não tinha força nem tomar banho sozinho.
Quando melhorava um pouco, descia para um café na cantina.
Era tanta felicidade, que eu me sentia como se tivesse ido à praia.
Nesses momentos você se sente completamente nada. Você não é nada.
Eu me considerava muito humano na minha profissão.
Humanizei-me mais.
Finalmente saí do hospital.
Estava muito enfraquecido,
Não conseguia abrir uma garrafa de Coca-Cola.
Sentia-me perdendo a guerra contra a doença.
Iniciei o tratamento da tuberculose e dois meses depois voltei ao trabalhar diariamente, num ritmo bem menor. Depois de 127 injeções, e 10 comprimidos diários por seis meses, fui declarado curado da tuberculose.
Meu aspecto físico já estava melhor.
O jogo contra a hepatite C estava empatado.
Depois de alguns meses, reiniciei o tratamento da hepatite.
O mesmo interferon e a mesma ribavirina.
Seis meses de tratamento, 24 doses.
Perdi o que ainda restava de musculatura.
Tomava o interferon toda quarta-feira na minha própria clínica e os funcionários já sabiam. Meu humor se transformava, eu me tornava impaciente, estressado e brigava à toa com qualquer um.
Era incontrolável.
O cansaço era descomunal. Várias vezes tive que largar a clínica no meio da tarde e voltar pra casa.
Só queria dormir.
Terminei o tratamento
Vivo!
Minha carga viral se manteve zerada desde a quarta dose. E continua assim. Todos os exames já estão se normalizando. As drogas que entraram por 3 anos no meu organismo, vão começar a sair.
Vou melhorar mais a cada dia
Me sinto ainda um pouco cansado, mas já tenho defesa orgânica.
Estou curado.
Virei o jogo contra a hepatite C.
Nesses 3 anos de doença, perdi peso, músculos, tempo e talvez algumas oportunidades.
Além do sofrimento quase incapacitante pelo qual você passa.
Ganhei paciência e calma. Muita calma.
E tudo que perdi é recuperável.
Não vi nenhuma luz azul,
Não me evangelizei, continuo ateu.
Mas uma boa pessoa.
Acho até que uma pessoa melhor.
Pequenas coisas já não me incomodam,
Pequenas felicidades já me sustentam.
Agora eu sou um privilegiado.
Eu resolvi me privilegiar.
E mais do que nunca
o privilégio é meu.
Sou eu.
José Luiz

Carlos Varaldo
www.hepato.com
hepato@hepato.com


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