Ainda não existe um tratamento medicamentoso para tratar a gordura no fígado (esteatose). Neste texto vamos explicar o que a pessoa com gordura no fígado deve fazer para evitar o acúmulo de gordura e em muitos casos até conseguir a eliminação. O tratamento consiste basicamente em modificações do estilo de vida, incluindo uma dieta saudável e aumento do exercício físico.
(Este artigo é a continuação do texto publicado em 30/09/2019 “A gordura no fígado é um grave problema de saúde” encontrado em https://hepato.com/2019/09/a-gordura-no-figado-e-um-grave-problema-de-saude/ )
O fígado é uma estação de limpeza das toxinas, e ainda, produz certas proteínas para ajudar corpo a se nutrir e para ajudar a curar feridas ou não sangrar, mas com gordura o fígado não consegue trabalhar a contento.
O acúmulo de gordura no fígado pode ser tão prejudicial quanto o consumo de álcool, e pode levar a danos no fígado a cicatrizes progressivas no fígado, levando a cirrose hepática e ao câncer de fígado.
O fígado está envolvido em toda a digestão, absorção e metabolismo dos alimentos que ingerimos.
Os danos no fígado causado pelos depósitos de gordura podem ser revertidos com mudanças simples na dieta, exercícios e perda de peso, nosso corpo faz essa coisa incrível e o primeiro lugar em que perde todas essas células de gordura está em nossos órgãos, especialmente no fígado
É conhecido que a acumulação de gordura nas células do fígado acarreta um risco aumentado de morte relacionada à doença cardiovascular e doença hepática. As pessoas com maior risco de doença hepática gordurosa são aquelas que:
-São obesos;
– Diabéticos;
-Apresentam resistência à insulina;
-Apresentam hipertensão (pressão arterial elevada);
-Apresentam hiperlipidemia (excesso de colesterol e triglicérides no sangue).
(Ao final do texto é encontrada uma Calculadora para conhecer a fibrose causada pela gordura no fígado (esteatose))
O PERIGO DA SÍNDROME METABÓLICA
A síndrome metabólica é um dos mais importantes fatores que provocam a gordura no fígado.
A síndrome metabólica é um conjunto de condições que ocorrem ao mesmo tempo e incluem obesidade, hipertensão, níveis elevados de açúcar no sangue e níveis anormais de gordura. É um fator de risco importante para doenças não transmissíveis, como ataques cardíacos, diabetes ou acidente vascular cerebral.
A síndrome metabólica geralmente é facilmente observada devido ao aumento de cintura abdominal. Pode ser determinada pelo índice de massa corpórea (IMC), ou pela medida da circunferência abdominal (nos homens, o valor normal vai até 102 cm e nas mulheres, até 88 cm), ou pela relação entre as medidas da cintura quando é maior que a medida do quadril.
A gordura da barriga, chamada de gordura visceral, é o tipo mais perigoso de gordura, porque pode prejudicar os órgãos principais, incluindo o fígado, pâncreas e rins.
CUIDANDO E TRATANDO A GORDURA NO FÍGADO
A seguir alguns importantes estudos e pesquisas:
1 – Num curioso estudo recente publicado na revista cientifica “Environmental Pollution” (doi: 10.1016/j.envpol.2019.113231) os pesquisadores chegaram à conclusão que pessoas que moram perto de áreas verdes, apresentam menor risco de desenvolver a síndrome metabólica, já que essas pessoas possuem maior facilidade para realizar atividades físicas, assim como uma menor exposição a poluição do ar que acontece em áreas centrais das cidades.
2 – Outro estudo analisou dados de 121.706 mulheres (com idades de 30 a 55 anos) e 51.529 homens (com idades de 40 a 75 anos), nenhum deles com cirrose ou infectados com alguma hepatite viral. De 1986 a 2010, os dados sobre a atividade física semanal foram medidos a cada seis meses.
Aqueles que realizavam caminhadas durante um mínimo de 4 horas na semana tiveram uma redução superior aos 40% de risco de morte por problemas no fígado que as pessoas sedentárias. O maior benefício foi observado nos participantes que além da caminhada de 4 horas por semana praticavam, também, algum exercício de força praticado na academia.
3 – Pesquisadores acompanharam 233.676 pacientes durante cinco anos realizando seguidas ultrassonografias e validando os dados. 126.811 indivíduos foram identificados sem o fígado gordo, e entre eles 29.014 desenvolveram fígado gorduroso durante os cinco anos de acompanhamento. No início do estudo, havia 42.536 indivíduos com gordura no fígado e desses indivíduos, 14.514 resolveram o problema.
O resultado do estudo mostrou que o benefício do exercício realizado cinco ou mais vezes por semana foi associado com um benefício significante, tanto na regressão da gordura no fígado quanto no risco de desenvolvimento dele. (Effect of exercise on the development of new fatty liver and the resolution of existing fatty liver – Ki-Chul Sung, Seungho Ryu, Jong-Young Lee, Jang-Young Kim, Sarah H. Wild, Christopher D. Byrne – Journal of Hepatology – October 2016Volume 65, Issue 4, Pages 791-797)
4 – Os resultados do estudo (Physical activity levels and hepatic steatosis: a longitudinal follow up study in adults – Aline Mendes Gerage, Raphael Mendes Ritti-Dias, Babu Balagopal, Raquel Dilguerian de Oliveira Conceição, Daniel Umpierre, Raul Dias dos Santos Filho, Gabriel Grizzo Cucato, Márcio Sommer Bittencourt – Hepatology – Accepted manuscript online: 30 August 2017 – DOI: 10.1111/jgh.13965) mostram que os indivíduos que no início do estudo não apresentavam gordura no fígado que se tornaram ou permaneceram fisicamente ativos durante o período apresentaram menor probabilidade de desenvolver gordura no fígado em comparação com aqueles que permaneceram fisicamente inativos.
Entre aqueles com gordura no fígado não início do estudo, que permaneceram fisicamente ativos melhoraram de forma benéfica o status da gordura no fígado.
Concluem os autores que níveis mais elevados de atividade física foram associados à prevenção e ao tratamento da esteatose (gordura no fígado).
ALIMENTAÇÃO
Em relação a alimentação, o ideal e fazer entre cinco e seis pequenas refeições por dia, não deixando um intervalo maior que seis horas sem se alimentar. É uma excelente fórmula para perder peso!
Lembre-se que um refrigerante, uma cerveja ou um copo de vinho, tem calorias. Reduza a quantidade utilizando um copo de menor tamanho. A melhor opção é sempre beber água. A abstinência de álcool no curto prazo (30 dias) em bebedores moderados melhora a resistência à insulina e os fatores de risco em indivíduos com gordura no fígado.
Para tentar a controlar a gordura no fígado é necessário incluir fibras na alimentação. Verduras com muitas folhas, grãos inteiros, nozes e feijões são bons para combater a gordura no fígado.
Não há “super-alimentos” que queimam a gordura visceral como anunciam na televisão. Procure melhorar seus hábitos alimentares e adicionar uma atividade física todos os dias.
Uma dieta saudável pobre em carboidratos simples e gorduras saturadas, rica em fibras, carnes magras, frutas e vegetais é o primeiro passo para tratar e prevenir a síndrome metabólica.
Aqueles com gordura no fígado (esteatose) que mediante uma dieta perdem 10% do seu peso corporal podem reverter os danos ao fígado. Mas nunca deve se fazer uso de suplementos para emagrecer, pois poderá piorar o estado do fígado. Nunca deve se fazer dietas “milagrosas”.
Diversos estudos confirmam ao benefício do consumo de café com algumas doenças do fígado, como a hepatite C e a esteatose (gordura no fígado).
1 – Concluem os autores deste estudo que o diagnóstico da esteatose não alcoólica e a fibrose foi menos frequente nos obesos que tinham um consumo mais elevado de café e que os resultados sugerem que esse tipo de paciente obeso que bebe café pode ter uma possibilidade menor de desenvolver esteatose. (COFFEE CONSUMPTION IS A PROTECTOR FACTOR FOR SEVERE OBESE PATIENTS WITH NONALCOHOLIC STEATOHEPATITS – ALEH 2014 – Barros RK, Cotrim HP, Daltro CH, Alves E, Freitas LA, Oliveira YP, Vasconcelos AC; Araújo F; Daltro CS and NASH Study Group – NASH Study Group – PPgMS – Faculdade de Medicina – Universidade Federal da Bahia – Núcleo de Tratamento e Cirurgia da Obesidade, Salvador – BA – CpGMS – FIOCRUZ, Salvador – BA)
2 – Os resultados deste estudo mostram que os pacientes com fibrose grave (F3) apresentavam consumo significativamente maior de frutose industrial, ingerindo refrigerantes, os quais são adoçados com frutose industrial por ser um adoçante mais barato que o açúcar.
Também, a mesma análise encontrou que os pacientes que consumiam alimentos adoçados com frutose industrial apresentavam maior atividade necro-inflamatória e esteatose grave.
Entre os pacientes que ingeriam a mesma quantidade de frutose exclusivamente por meio do consumo de frutas não apresentavam os mesmos níveis elevados de atividade necro-inflamatória ou esteatose. (INDUSTRIAL, BUT NOT FRUIT FRUCTOSE INTAKE IS INDEPENDENTLY ASSOCIATED WITH SEVERE LIVER FIBROSIS IN GENOTYPE 1 CHRONIC HEPATITIS C PATIENTS – S. Petta, V. Di Marco, F.S. Macaluso, C. Cammà, D. Cabibi, S. Ciminnisi, L. Caracausi, A. Craxì. – EASL 2013 – Abstract 486).
MEUS COMENTÁRIOS
É importante tentar “queimar” essa gordura visceral com caminhadas, natação, bicicleta, exercícios com duração de uns 45 minutos praticados cinco dias a cada semana.
Assim, nada mais prudente que organizar nossas vidas e, sem necessidade de contratar um professor, o fato de realizar uma boa e enérgica caminhada diária de mais de 30 minutos vai conseguir resultados pelos quais todos ficaram assombrados, mas lembrando que isso não deve ser motivo para abandonar as consultas e os conselhos do médico assistente.
Caminhar sem interrupções numa esteira o na rua durante uma hora todos os dias podem retardar a progressão do deposito de gordura no fígado e até chegar a diminuir, nos casos em que a esteatose não foi causada pelas bebidas alcoólicas.
O benefício é maior para pessoas obesas com progressão para se tornarem diabéticas. O exercício aeróbico melhora o metabolismo do organismo e diminui a formação de radicais livres produzidos pela oxidação da gordura existente no fígado
Interessante comprovação cientifica daquilo que a sabedoria popular muito bem conhece. Pessoas ativas, que realizam atividades físicas diariamente sabem apresentar melhores resultados nos exames de saúde. A atividade aeróbica oxigena o organismo e com isso a gordura depositada no fígado, ou no restante do organismo evita a produção de radicais livres, que são os responsáveis por causar inflamação dos diversos órgãos, inclusive o fígado.
IMPORTANTE: A atividade física deve ser estimulada e adequada à faixa etária e ao condicionamento físico de cada indivíduo.
Fazer uma lipoaspiração é um engano e não vai se livrar da gordura visceral, pois a lipoaspiração não atinge a parede abdominal
FINAL:
Por enquanto não existem medicamentos para tratar a gordura no fígado, mas por sorte já existem muitas pesquisas e em dois ou três anos vamos ter opções terapêuticas de tratamento.
Acontece em novembro, em Boston, o congresso americano do fígado, AASLD-2019, onde a gordura no fígado certamente será o tema central. Estarei lá para depois poder divulgar como andam as pesquisas e o conhecimento sobre a doença.
CALCULADORA PARA CONHECER A FIBROSE CAUSADA PELA GORDURA NO FÍGADO (ESTEATOSE)
Indivíduos com gordura no fígado (esteatose) devem ter seus valores de fibrose seguidos ao longo do tempo para avaliar a progressão ou a estabilização.
Para utilizar a calculadora é necessário ter em mãos alguns dados, como a idade do paciente, o índice de massa corporal (IMC ou BMI), se a pessoa é diabética (ou não), os níveis das transaminases (ALT e AST), o nível de albumina e a quantidade de plaquetas.
A calculadora para obter o grau de fibrose em pacientes com doença hepática gordurosa não alcoólica (NAFLD) (esteatose) é encontrada em: https://www.mdcalc.com/nafld-non-alcoholic-fatty-liver-disease-fibrosis-score#next-steps
RESULTADOS:
Se o resultado for menor que 1.455, o grau de fibrose fica entre nenhuma fibrose (F0), fibrose mínima (F1) ou fibrose moderada (F2).
Se o resultado fica entre 1.455 e 0.675 lamentavelmente indica um resultado indeterminado.
Se o resultado é inferior a 0.675 indica uma fibrose severa (F3) ou cirrose (F4).
A biópsia hepática ou algum método de imagem para determinar a gravidade da fibrose seria necessária em apenas 25% dos pacientes identificados como” indeterminados “
INTERPRETANDO OS GRAUS DE FIBROSE:
Fibrose F0 = indica não existir nenhuma fibrose;
Fibrose F1 = indica fibrose mínima;
Fibrose F2 = indica fibrose moderada;
Fibrose F3 = indica fibrose severa;
Fibrose F4 = indica já existir um quadro de cirrose.
Carlos Varaldo
www.hepato.com
hepato@hepato.com
IMPORTANTE: Os artigos se encontram em ordem cronológica. O avanço do conhecimento nas pesquisas pode tornar obsoleta qualquer colocação em poucos meses. Encontrando colocações diversas que possam ser consideradas controversas sempre considerar a informação mais atual, com data de publicação mais recente.
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